quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Manoel Tristão

Mané acreditava em ventos de mudança. Era um processo complexo. Acreditava que muitas moscas juntas eram o presságio de uma grande tempestade se aproximando e que a própria tempestade e os ventos poderiam anunciar mudanças. Acreditava piamente em cada palavra do que dizia.

Mesmo com nome português, Manoel Tristão anunciava aos quatro ventos que suas habilidades de prever tempestades e alterações do futuro tinham origem em seus antepassados. Dizia que um deles era xamã numa aldeia indígena na Serra da Mantiqueira. O único problema de Mané eram as dores no peito, maus presságios.

Ganhou estabilidade financeira num contrato para previsão do tempo e análise climática de uma prefeitura no meio do agreste. Tinha vida mansa, e ainda trabalhava a distancia, fazendo análise estatíastistica da quantidade de moscas e da velocidade do vento. A fama se espalhou ao ponto de que um dia, num encontro com o prefeito em campanha para a reeleição, sentiu uma forte dor no peito. Antes que pudesse anunciar o presságio, cancelaram o contrato.

Previu, com margem de erro de três anos para mais ou para menos a morte do homem mais velho de sua cidade, foi dito e feito, 10 anos depois o homem morreu. Acertou uma quina da mega-sena como o bilhete que roubou do irmão. Era realmente um sujeito de sorte. Um dia Manoel Tristão foi convidado a fazer previsões sobre um casamento, ainda na festa de noivado.

Nada de vento ou tempestade, apenas a conhecida dor no peito. Os noivos, tendo fé no homem sábio, desmancharam o casamento, ele fugiu com o companheiro de trabalho para Buenos Aires, ela assumiu o caso com o jardineiro. Ao menos uma vez a dor no peito de Mané era realmente um presságio de um futuro ruim. Cinco minutos depois lá estava ele, caido no chão, vítima de um infarto. Num dia quase feliz morreu Manoel Tristão, vítima da própria superstição.