quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Um casebre, um rochedo

Por um castelo construído na areia tenho desistido da segurança da pequena casa fincada na rocha. Loucura. Dizer que minha fé acabou foi um engodo que eu criei para justificar algumas atitudes, facilitar ainda mais alguns caminhos. A verdade é que não importa qual seja o tamanho do domínio da razão sobre mim, eu ainda dependerei do absurdo para que eu possa descançar a alma. Ainda dependerei de Deus.

Paro para fazer uma análise da minha vida nesses últimos dias, e tenho visto que ela se resume a trabalho. Trabalhar todos os dias, para acumular dinheiro, para levar uma vida rasoável, para poder pagar a cerveja, para parecer bem aos amigos. Sente-se então que há progresso na vida, que o fruto do trabalho está sendo benéfico, que os desejos podem ser atendidos. Mas de que me adianta ganhar o mundo e perder a minha alma?

Hoje cedo eu conversava no escritório sobre o combate a violência no Rio de Janeiro, sobre como é feito e sobre como deveria ser feito, Eu dizia que não adianta comprar armas e formar soldados a origem do problema não for afetada, se não revolucionarem a saúde e a educação. Bastou que a noite chegasse para que eu pudesse aplicar em mim as palavras que eu disse mais cedo. Não me adianta satisfazer desejos se tudo o que eu tiver no fim forem risos falsos na escuridão. É preciso ir mais fundo, experimentar da alegria verdadeira, que não pode ser simulada. Estou também a falar de amor.

Do jeito que vou, é como poder andar pelas ruas, vestindo roupa barata comendo pastel de feira, e trocar essa liberdade por roupas de grife e canapés dentro dos muros de uma prisão. Tem algo muito errado nisso, nem gosto tanto de canapé. Aparentemente é um absurdo, a crença, a fé, a manifestação do sobrenatural. Aparentemente. Não se pode dizer o gosto que tem uma maçã se dela não provar. Para o bom proveito dos dias que virão, guiarei minha vida por esses absurdos. A gente vai conhecendo a verdade, e a verdade vai libertando a gente.