domingo, 19 de setembro de 2010

Mate

Esperei por mais de uma hora depois da hora marcada na porta do boliche até que todos chegassem, e a coisa ficou pior porque vinham juntos. Fui acumulando meu humor até o ponto de xingar um incauto que talvez com o atraso tivesse nada ou muito pouco. Mas esse é um parágarafo isolado.

A verdade é que eu gosto bastante dos meus amigos e acho que eles também gostam de mim, acho que um dia terei certeza disso, quem sabe depois que eu morrer se em forma de alma penada [eu sempre imagino um fantasma-galinha] eu puder ouvir o que eles falam sobre mim ainda na cerimônia do meu crematório.

Gosto deles e acho que uma das expressões máxima da cumplicidade e confiança [no sentido de "veja lá se eu estou te dando confiança"] está no tratamento. A ausência completa de cerimônia, a permissão para já chegar brincando somada a sorrisos instantâneos. Poder dizer e aí viado e não ouvir como resposta "tá maluco, mermão?"; Poder chamá-la de coisa feia e ter certeza de que ela e muitos outros sabem o quanto ela é bonita e que eu concordo.

Ainda fico na dúvida para saber se entre amigos somos mais homem ou mais bicho. Porque há um quê de cachorro em bando, fazendo baderna comendo o lixo da vizinhança, mas pode também haver a conversa sobre movimentos sociais, cinemas europeus, solução para os problemas da nação [se, e somente se o papo for regado a cerveja, vinho outros drinks ou narcóticos.]. Por enquanto, fico como o modelo animal, nos comparando a gatos que em momento de carência afetiva provocam ao outro da mesma espécie, sem que isso atrapalhe a independência que tem na vida.

Eu sei que rola muitas vezes uma falsidade necessária, afinal, como disse Bertrand Russell: "Se nos fosse dado o poder mágico de ler na mente uns dos outros, o primeiro efeito seria sem dúvida o fim de todas as amizades." Mas na maior parte do tempo, tudo é esquecido e eu sou até capaz de amar um flamenguista, ou uma ouvinte de axé-music.