quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Worlds


Vira e mexe encontro pela rua, no horário de saída das escolas, casais de namorados adolescentes. A felicidade deles está estampada em seu rosto, nas mãos entrelaçadas, nos abraços apertados, na pausa no banco de praça para namorar escondido. É o tipo de alegria que invariavelmente experimentaremos ao menos uma vez na vida.

Não quero me ater a idades, mas a tamanhos. Ao tamanho do mundo para nos. É como a dilatação anômala da água. Quando somos crianças o mundo é enorme, o pomar no quintal da avó é uma imensa floresta a ser desbravada, somos pequenos. Na adolescência o mundo chega ao seu menor tamanho, somos quase como o pequeno príncipe habitando o seu meteorito. Moleques, somos os donos de toda razão e editores de decretos que só valem em nosso mundo, em nosso pequeno mundo e todo aquele que se aproxima passa a estar sobre as regras de nosso regime.

Mas chega uma hora que é inevitável que apareçam as primeiras rugas, cabelos brancos, juros do cartão de crédito, meta de trabalho e trabalho de faculdade. Nos tornamos adultos e o universo se expande novamente; só que dessa vez, o sentimento que temos é de agonia. Nos descobrimos pequenos em um universo tão vasto, nos deparamos com nossa finitude, somos mortos em potencial.

De tão pequenos, nos permitimos amar para ser maior com o outro. O amor tem dessas coisas, além daquela capacidade [nem sempre] apreciável de fazer errar a mais confiável das previsões. Talvez por isso os pais daqueles casais que vejo,as vezes até matando aula, fingem não saber o que se faça, para não impedir a felicidade enquanto ela pode existir. Sempre é bom olhar para nosso passado, ele nos inspira a pintar o futuro.

[update] Troquei a imagem do post. Eu gosto bastante do trabalho do Kurt Halsey, mas aquela ilustração estava afrescalhada demais para os propósitos desse blogue. Coloquei essa, que está em creative commons e ilustra bem a potência do amor de adolescência, capaz de fazer a gente escrever em lugares da cidade que amará eternamente quem depois a gente pode até encontrar na rua e pensar: caramba, eu peguei isso, ou, caramba, como eu consegui sair com ela/ele.

[Fotografia de Jonas Ahrentorp]